A comunidade albina em Angola luta contra a alta incidência de cancro da pele, agravada pela escassez de recursos médicos e pelo preconceito social.
Manuel Vapor, presidente da 4As Associação de Apoio aos Albinos de Angola, alertou que a incidência de cancro da pele entre albinos continua alarmante, com muitos ainda a ver esta condição como um encargo para as suas famílias. A associação que lidera abrange mais de 2.000 pessoas, enquanto o Ministério da Saúde regista cerca de 6.000 albinos.
Segundo Vapor, o acesso a tratamento é severamente limitado, especialmente nas regiões interiores onde a ausência de dermatologistas torna a situação ainda mais crítica. “Ao visitarmos o centro de oncologia em Luanda, é doloroso observar a condição dos nossos irmãos”, afirmou, enfatizando que não avançará números sobre mortalidade devido à falta de dados precisos.
O albinismo, uma condição genética que resulta na diminuição da melanina, vulnerabiliza os indivíduos a problemas de pele. Para evitar complicações, é vital que usem protetor solar, roupas que cobrem a pele, chapéus e óculos. Entretanto, Vapor ressaltou a dificuldade em obter protetores solares, que são distribuídos aleatoriamente pelo governo. “Certa vez, prometeram-nos 2.000 unidades, mas recebemos apenas 56”, explicou.
A associação não se limita a questões de saúde, mas também se empenha em desmistificar conceitos errados acerca do albinismo. Realizam palestras em empresas, escolas e instituições militares com o intuito de combater estigmas que persistem na sociedade. Infelizmente, existem ainda crenças de que os albinos são um fardo familiar, incapazes de trabalhar ou com perceções distorcidas sobre as suas capacidades.
Vapor notou que, ao contrário de outros países africanos, em Angola não se reportam casos de assassinatos de albinos por causa de crenças supersticiosas. No entanto, algumas províncias ainda praticam a infanticídio de bebés albinos. As dificuldades em conseguir ocupação laboral agravam a exclusão social que essa comunidade enfrenta. “Infelizmente, existe a crença de que não têm competências, mas eu sou um exemplo, sou oficial da Polícia com um cargo de chefia”, comentou.
Para ajudar os albinos a superarem estas barreiras, a associação tem promovido a formação profissional em diversas áreas, como confeção, culinária e informática, para promover a sua autonomia e auto-sustento.
A Vapor apela ao governo para que dedique maior atenção a esta comunidade marginalizada, sublinhando que o seu potencial pode beneficiar a sociedade como um todo. Ele solicita, ainda, que sejam disponibilizados gratuitamente produtos essenciais para cuidados de saúde, tal como acontece com tratamentos para HIV/SIDA e hemodiálise. Além disso, pediu ao Ministério dos Transportes que permita o transporte gratuito dos albinos, que frequentemente necessitam deslocar-se para receber cuidados médicos.
O albinismo, que pode afetar todos os seres vivos, é uma condição que merece atenção e respeito, independentemente da etnia.