Alarmante realidade: 97% dos jovens espanhóis enfrenta violência sexual online
Um relatório da ONG Save the Children revela que quase todos os adolescentes em Espanha são vítimas de violência sexual na Internet, incluindo abusos e ameaça de difusão de imagens íntimas.
A organização não-governamental Save the Children divulgou, esta manhã, um preocupante relatório intitulado "Redes que prendem. A exploração sexual da infância e a adolescência nos ambientes digitais". Este estudo, realizado em parceria com a Associação Europeia para a Transição Digital, abrange dados oficiais e um inquérito a mais de mil jovens entre os 18 e os 21 anos em Espanha.
Os resultados são alarmantes: 97% dos jovens entrevistados reportaram ter sido vítimas de alguma forma de violência sexual online na sua adolescência. Este fenómeno inclui interações de adultos com intenções sexuais, a partilha não autorizada de imagens íntimas e chantagens para que os jovens enviassem conteúdos sensuais.
O relatório também destacou o uso de tecnologias de Inteligência Artificial (IA) para criar conteúdos conhecidos como 'deepfakes', que envolvem a manipulação de imagens de jovens e crianças para fins sexualmente explícitos. Um caso alarmante refere que um em cada cinco jovens experienciou a criação e disseminação destes conteúdos durante a adolescência, onde imagens suas foram partilhadas sem consentimento.
A Save the Children enfatizou que a Internet e as redes sociais não só facilitam a exploração sexual, mas também são canais pelos quais essas violências se perpetuam. Os agressores frequentemente iniciam contacto com as vítimas através de redes sociais e jogos online, antes de evoluírem para aplicações de mensagens como WhatsApp, Telegram ou Discord.
Em termos de pressão para partilhar conteúdos íntimos, as raparigas são as que mais relatam essa experiência (28,5% comparado a 18,4% dos rapazes). Importa notar que todos os jovens vítimas tinham, anteriormente, compartilhado informações pessoais ou íntimas online.
O estudo revela ainda que apenas 50% dos jovens considerava o contacto com desconhecidos como um risco significativo durante a infância, enquanto somente 32,9% tinham consciência dos perigos de enviar imagens íntimas a adultos. Estranhamente, 70% não percebia a manipulação digital de fotografias e vídeos como um risco.
Em relação aos motivos que levaram os jovens a enviar imagens íntimas, 48% alegou desconhecimento do potencial perigo, 46% considerou que era algo normal, e 42% procurava atenção ou validação.
A Save the Children adverte para a falta de acompanhamento adequado dos menores e a insuficiência da formação em segurança digital, sublinhando que a utilização intensiva de tecnologias por crianças e adolescentes amplifica o problema.
De acordo com dados do Ministério da Administração Interna de Espanha, foram registadas 4.896 denúncias de crimes na Internet contra crianças e adolescentes em 2023, das quais 1.068 eram delitos sexuais.
A responsável da Save the Children, Catalina Perazzo, afirmou que estes números são apenas a "ponta do iceberg", dado que muitos casos permanecem ocultos devido a uma combinação de falta de denúncia e à dificuldade de deteção em ambientes online.