Cultura

A Revolução Cultural da Morabeza em Cabo Verde Antes da Liberdade

Fundada em 1965, a Morabeza foi a pioneira na promoção da música cabo-verdiana, um legado fundamental na luta pela independência.

28/06/2025 16:10
A Revolução Cultural da Morabeza em Cabo Verde Antes da Liberdade

A Morabeza, editora criada em 1965 em Roterdão, Holanda, tornou-se um marco na preservação da cultura cabo-verdiana antes da independência. A iniciativa de Djunga di Biluca, sugerida por Amílcar Cabral, foi mais do que uma simples editora: foi um instrumento de resistência e afirmação identitária.

“A música cabo-verdiana reflete uma tristeza profunda, expressando aquilo que muitas vezes não conseguimos verbalizar”, dizia Djunga di Biluca, cuja visão estava presente no primeiro álbum da Morabeza, ‘Caboverdianos na Holanda’, que incluía artistas como Franque Cavaquinho e Tazinho.

Inicialmente chamada Casa Silva, a Morabeza foi fundamental na formação de uma comunidade cabo-verdiana em Roterdão, ajudando imigrantes a encontrar trabalho e a conectar-se com a luta pela independência. César Monteiro, sociólogo e especialista em música cabo-verdiana, destaca a importância da editora na promoção de expressões artísticas que contestavam o regime colonial português.

Embora a discografia da Morabeza não tivesse muitos discos claramente contestatórios, apresentou música cabo-verdiana autêntica e sem censura, um contraste crucial com a visão colonial que marginalizava a cultura das colónias. "Essas canções simbolizavam uma identidade, uma saudade que todos os cabo-verdianos sentem", realça Monteiro.

A Morabeza também foi responsável pela chegada de Bana à Holanda, onde, a convite de Franque Cavaquinho, ajudou a lançar o que viria a ser a Voz de Cabo Verde, um projeto que se destacou por quase duas décadas.

Djunga di Biluca não apenas dirigia a editora, mas também mantinha a ligação entre os cabo-verdianos em exílio e a luta pela libertação. Emanuel Varela, que se exilou em Roterdão, menciona como Djunga ajudou muitos compatriotas a integrarem-se.

Bonga, músico angolano, foi outro grande nome que passou pela Morabeza, editando seu primeiro disco na editora. Ao lado de artistas como Luís Morais e a então desconhecida Cesária Évora, a Morabeza lançou obras que ressoaram profundamente entre a diáspora cabo-verdiana. António Lima, um diplomata reformado, rememora como a música da Morabeza se tornou um símbolo de orgulho e coragem para os cabo-verdianos no estrangeiro.

Após a morte de Cabral, Lima compôs uma canção que refletia suas preocupações com o futuro da luta. O disco do seu grupo, Kaoguiamo, tornou-se uma voz mobilizadora entre os jovens, antecipando a independência de Cabo Verde. A música, símbolo de resistência, emergiu em momentos de revolta, evocando emoções profundas e um desejo de liberdade.

Em um documentário, Djunga di Biluca enfatizou a importância de manter a cultura cabo-verdiana viva, afirmando que “sem cultura e sem identidade, és nada”. A Morabeza, assim, não foi apenas uma editora, mas um pilar fundamental na história da luta por liberdade em Cabo Verde.

#CulturaCaboVerdiana #IdentidadeEmLuta #ResistenciaMusical