No 80.º aniversário do fim da Segunda Guerra Mundial, o presidente Steinmeier rejeitou a narrativa russa sobre a invasão da Ucrânia, destacando a importância de preservar a memória histórica.
No âmbito das comemorações do 80.º aniversário do término da Segunda Guerra Mundial, o presidente alemão, Frank-Walter Steinmeier, declarou que as justificações apresentadas pela Rússia para a invasão da Ucrânia não possuem legitimidade. Segundo ele, a guerra iniciada a 24 de fevereiro de 2022 sob a liderança de Vladimir Putin não é uma luta contra o nazismo, mas sim uma "cobertura" para uma "loucura imperial" associada a "crimes atrozes".
Durante um discurso no Bundestag, Steinmeier manifestou também descontentamento em relação à postura dos Estados Unidos, referindo que a administração de Donald Trump está a afastar-se dos valores fundamentais que emergiram após os horrores da Segunda Guerra Mundial. "A mudança de rumo dos Estados Unidos, um país que foi decisivo para a formação da ordem global pós-guerra, é alarmante", frisou.
Steinmeier caracterizou a situação atual como uma "dupla rutura histórica", onde a agressão da Rússia e a crise de valores nos EUA simbolizam um desvio do longo século XX. Ele expressou um profundo reconhecimento pelos soldados aliados - norte-americanos, britânicos, e pelos movimentos de resistência que combateram o regime nazi, mencionando especialmente o papel crucial do Exército Vermelho, que fez grandes sacrifícios para libertar a Alemanha e os campos de extermínio.
"É por isso que não podemos permitir a distorção histórica promovida pelo Kremlin", exclamou Steinmeier, sublinhando que, mesmo que as celebrações do dia da vitória em Moscovo reafiem essa narrativa, a verdade é que a invasão da Ucrânia não pode ser justificada como uma continuação da luta contra o fascismo.
O embaixador russo em Berlim não participou da cerimónia no Bundestag, um evento que foi excepcionalmente declarado feriado na capital alemã. Steinmeier também destacou a necessidade de defender a memória do 8 de Maio de 1945 contra qualquer forma de extremismo que pretenda banalizar o Holocausto, advertindo que tal atitude seria uma traição às lições do passado.
O discurso parece ter sido recebido sem entusiasmo pela extrema-direita representada pelo partido Alternativa para a Alemanha (AfD), cujos membros não aplaudiram Steinmeier. O presidente expressou preocupações sobre o ressurgir de tendências autoritárias e populistas tanto na Alemanha quanto na Europa, enfatizando que mesmo as democracias mais consolidadas podem estar em risco quando a justiça e a liberdade estão comprometidas.
"A questão que devemos colocar não é se o 8 de Maio nos libertou, mas como podemos continuar a preservar a liberdade", concluiu.