Moradores do Talude Militar continuam sem abrigo após demolições
Centenas de pessoas, incluindo crianças, vivem em tendas no Talude Militar após a destruição de suas casas pela Câmara de Loures. Uma ação pública está agendada para o dia 30.

Atualmente, um significativo número de moradores, incluindo várias crianças e bebés, permanece a dormir em tendas no Bairro do Talude Militar. A situação é consequência da demolição das suas habitações, realizada pela autarquia de Loures, que conduziu à indignação e mobilização da comunidade.
De acordo com Kedy Santos, deputado da CDU na Câmara Municipal de Loures, a situação no bairro é "inalterada" e não existem soluções concretas para aqueles que ainda habitam o local. Segundo Santos, o sentimento predominante entre os que perderam as suas casas é de "frustração". O movimento Vida Justa tem prestado apoio a estes moradores, tentando mitigar os efeitos da crise habitacional.
Os trabalhos de limpeza no bairro foram suspensos, tanto pelos serviços públicos como por voluntários que se dedicaram à limpeza no último sábado. O Vida Justa planeia assim um novo apelo à solidariedade para o próximo sábado.
A comunidade, juntamente com ativistas, organizou um plenário para discutir futuras ações, decidindo realizar uma manifestação pública no dia 30. Entre as atuais propostas está a entrega de uma carta aberta, intitulada "Parar os despejos e resolver a situação da habitação", no edifício do Conselho de Ministros em Lisboa. O objetivo é chamar a atenção para a urgência da problemática da habitação, que deve ser abordada a nível nacional e não apenas local.
A carta, que já reuniu mais de três mil assinaturas e o apoio de diversas associações, destaca a necessidade de um programa nacional de emergência habitacional.
Kedy Santos também mencionou que a campanha de donativos para os moradores do Talude Militar superou as expetativas, com muitos bens materiais e apoio financeiro. "Não temos capacidade para mais donativos no Talude, mas temos agora um armazém à disposição", referiu.
A operação de limpeza do último sábado contou com cerca de cinquenta voluntários e, posteriormente, com a ajuda de técnicos da autarquia para remover toneladas de entulho resultantes das demolições.
A Câmara Municipal de Loures iniciou a demolição de 64 casas, abrigando 161 pessoas, tendo destruído 51 no primeiro dia e 4 no segundo. No entanto, a operação foi suspensa por decisão de um tribunal em Lisboa, após pedidos de moradores que buscaram proteção legal.
O deputado Santos criticou a autarquia por não ter considerado todas as circunstâncias antes de avançar com as demolições, enfatizando que deveriam ter disponibilizado instalações temporárias para abrigar as pessoas em situação de emergência.
Com a ajuda do Vida Justa e de associações locais, foram criados pontos de higiene nas proximidades do bairro, embora isso represente um desafio durante a semana, quando muitos moradores estão fora para trabalhar.
Dos 55 agregados familiares que residiam nas habitações demolidas, 14 estão agora a receber apoio por parte da Câmara de Loures. Informações da autarquia indicam que 38 famílias foram atendidas até ao momento, enquanto outras 14 encontraram abrigo com familiares ou amigos. Três famílias ainda recusaram ajuda e sete não demonstraram interesse nas opções oferecidas.
Atualmente, três famílias continuam a beneficiar de apoio para pernoita, e dez famílias estão a receber assistência alimentar. Além disso, cinco famílias conseguiram entrar no mercado de arrendamento, apoiadas pela autarquia no pagamento da caução e do primeiro mês de renda.